quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Vitória dos trabalhadores da Fidar ao fim de dois meses e meio de luta

Os operários e operárias da Fidar puderam, no passado dia 17 de Outubro, desmobilizar o piquete que vinham mantendo por turnos à porta da empresa desde o dia 1 de Agosto, para evitar a retirada dos bens da empresa, após terem sido despedidos sem qualquer garantia de pagamento dos direitos salariais e indemnizações devidas. Isto porque o tribunal de Guimarães decidiu, no dia 15 de Outubro, a favor dos trabalhadores que pediam a insolvência da empresa e a nomeação de um administrador judicial, que assegurasse o pagamento das dívidas da empresa aos trabalhadores.

De acordo com a decisão do tribunal, os seguranças de uma empresa privada que o patrão tinha colocado a vigiar as instalações da fábrica foram substituídos por seis trabalhadores da Fidar. São agora estes trabalhadores, pagos pela empresa, administrada judicialmente, que asseguram que nada sai da fábrica.

Os trabalhadores aguardam agora pela reunião da assembleia de credores, onde estarão representados, no dia 27 de Novembro. Só então haverá desenvolvimentos sobre o rumo da empresa, estando em princípio garantidas as indemnizações dos trabalhadores.

Após dois meses e meio, os operários da Fidar ainda não se desabituaram de ir à porta da fábrica ver como estão as coisas. Só agora começam a interiorizar a situação de desempregados (a média de anos de trabalho na Fidar é de 25 anos, sendo que muitos estão lá desde o início há 35 anos).
Mais do que a decisão do tribunal, o factor decisivo para esta primeira vitória foi a iniciativa dos 95 trabalhadores (de um total de 150 despedidos pela Fidar) que recusaram assinar um acordo de rescisão que não lhes dava garantias, permanecendo durante dois meses e meio, 24 horas por dia, de guarda aos portões da Fidar para defender os seus direitos, resistindo às provocações da entidade patronal, coadjuvada pela GNR.

Nas palavras de um dos trabalhadores da Fidar, a luta que estes levaram a cabo “deu um exemplo ao patronato da região, de que não pode fazer aquilo que lhe apetece”.


Mais sobre esta luta:

+ Empresa FIDAR – um exemplo de resistência: Há dois meses em contestação em frente às instalações da fábrica

+ Empresa FIDAR - Gondar/ Guimarães - Um caso de resistência ...
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Espanha: Manifestações contra o Plano Bolonha e a privatização da educação


Companheir@s da CNT e das associações autónomas na manifestação de Madrid (22/10/2008)


Companheir@s da CNT e das associações autónomas na manifestação de Madrid (22/10/2008)


Companheir@s da CNT-AIT na manifestação contra o Plano Bolonha em Málaga (22/10/2008)

Em Portugal, o processo de Bolonha foi aplicado praticamente sem contestação, mas em Espanha, como noutras regiões da Europa, sucedem-se as manifestações contra o Plano Bolonha e contra todas as leis que vão levando à destruição da escola pública e à transformação das escolas e universidades em espaços privatizados e elitistas, que apenas reforçam a competição e a ausência de solidariedade, próprias das sociedades capitalistas.

O dia 22 de Outubro foi data de mobilizações, em várias cidades do Estado espanhol, contra a reforma educativa associada ao Plano Bolonha, contra a privatização do ensino e contra a degradação da escola pública.

Sobre o processo de Bolonha escreve o Sindicato do Ensino e Intervenção Social da CNT-AIT de Madrid (http://ensemad.cnt.es/):

«A mercantilização da universidade. O Espaço Europeu de Educação Superior (Bolonha)

«Os objectivos deste processo não são aqueles que a universidade cumpriu tradicionalmente. Qualquer modelo educativo superior fica sujeito a uma nova definição de estratégias produtivas do capitalismo internacional. A «Europa do conhecimento”, que se pretende alcançar a partir de 2010, preconiza que o objectivo fundamental do processo de Bolonha é “fazer da Europa a economia mais competitiva e dinâmica do mundo, baseada no conhecimento”. Não uma Europa melhor formada, nem uma Europa mais culta, nem tampouco uma Europa mais reflexiva, crítica e solidária. A transformação da universidade deve assim ser conforme com um espaço destinado a satisfazer os interesses das grandes corporações económicas, tecnológicas e mediáticas da Europa, dando primazia aos interesses económicos sobre os formativos, científicos ou culturais.
«A implantação deste processo acarreta a drástica transformação da estrutura universitária, configurando um sistema educativo de bases elitistas, que limita o total de pessoas que podem obter um curso universitário. As universidades são, portanto, obrigadas à delineação de programas com estruturas circunscritas a muito poucos ramos, com um número reduzido de cursos, nos quais os estudos humanísticos e culturais são relegados para um destino marginal.
«Este é apenas um pequeno resumo que deixa já em evidência o que o Espaço Europeu de Educação Superior pretende fazer na universidade. Existem movimentos de recusa tanto no Estado espanhol como noutros Estados europeus e pode destacar-se a recusa frontal deste plano por parte do Reino Unido.»


O Sindicato do Ensino e Intervenção Social da CNT-AIT de Madrid propõe a organização autónoma de todos os que estão fartos de assistir à brutal degradação da escola pública e da universidade, estudantes e trabalhadores do ensino, fora de qualquer organismo estatal ou de sindicatos burocráticos e subvencionados.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Solidariedade com os trabalhadores do IKEA de Brescia (Itália)

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Piquetes da USI em frente do IKEA de Brescia

No dia 1 de Setembro, sete trabalhadores do IKEA de Brescia (Itália) foram despedidos, durante a passagem de uma agência de trabalho temporário para outra, apesar das garantias dadas de que seriam reabsorvidos pela nova agência.

Estes trabalhadores exercem funções no IKEA há muitos anos, recebendo baixos salários e trabalhando mais de 200 horas por mês, sem verem respeitadas as normas de segurança no trabalho (um trabalhador teve de comprar com o seu próprio dinheiro o calçado de segurança), num parque de estacionamento sem ventilação.

Tudo isto foi permitido pelo IKEA que, encarregado de garantir o respeito das leis laborais, sempre preferiu ignorar a situação, em função da lógica do lucro sem limites e sem respeito pela dignidade dos trabalhadores.

Para contrabalançar a descida das vendas, o IKEA de Brescia optou por reduzir o pessoal e piorar as condições de trabalho, de tal forma que agora os trabalhadores do restaurante e do bar se alternam na recolha dos carrinhos do parque de estacionamento.

Os sete trabalhadores despedidos decidiram apresentar-se no IKEA de Brescia todos os sábados e domingos até à sua readmissão.

APOIA A LUTA DOS TRABALHADORES DO IKEA DE BRESCIA!
BOICOTA O IKEA!
BASTA DE TRABALHOS PRECÁRIOS E DE EXPLORAÇÃO!


Adaptação de um comunicado da Unione Sindacale Italiana, organização anarco-sindicalista, secção italiana da AIT
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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Boletim Anarco-Sindicalista nº 28 (Outubro - Novembro 2008)

.Descarrega em PDF aqui:
.-Versão para net (em A4; 1,5 Mb)
- Versão para impressão (em A3; 5,5 Mb)

Neste número do Boletim:
.- Cerâmica Torreense: mais um caso de repressão patronal
- Vila Verde: Trabalhadoras de fábrica têxtil impedem saída das máquinas
- Barcelos: Tor encerra e deixa 255 trabalhadores no desemprego
- Operários da Camac (Santo Tirso) em greve devido a salários em atraso
- Três milhões de euros de salários em atraso no primeiro semestre de 2008
- Trabalho infantil perdura em Portugal
- Metade dos trabalhadores portugueses ganha até 600 euros
- Empresa FIDAR – um exemplo de resistência. Há dois meses em contestação em frente às instalações da fábrica
- A “crise” do sistema financeiro. Será que os parasitas “foram longe demais”?
- Código do Trabalho? Não, Código do Capital!
- Instituto de (Des)Emprego
- Protestos e razões para protesto no País do medo
- Não à nova guerra do Cáucaso!
- Dias de Acção Global da AIT
- A FORA-AIT ganha conflito com o restaurante La Pérgola
- Sevilha: Foi assassinada a companheira Rosa Pazos
- Despejo do Centro Social Libera de Modena em Itália
- Greve de fome do anarquista Amadeu Casellas durou 76 dias
- Supremo Tribunal dos EUA rejeita recurso de Mumia Abu-Jamal
- O que é uma organização anarco-sindicalista?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A “crise” do sistema financeiro. Será que os parasitas “foram longe demais”?

A “crise” do sistema financeiro mundial, consequência da voracidade intrínseca dos capitalistas pela obtenção de mais e mais lucros, que os levou, sobretudo nos EUA, a darem crédito para compra de habitação, garantido pela hipoteca da própria casa “comprada”, a pessoas que sabiam perfeitamente incapazes de pagar os juros correspondentes, não se deve, ao contrário do que é afirmado nos mass media, a um funcionamento deficiente dos sistemas de controle das bolsas americanas, que deveriam ter impedido a proliferação de títulos baseados nas hipotecas cujo “valor” não assentava em nenhuma criação real de riqueza e que foram rechear os “activos” de bancos e empresas pelo mundo fora.
Não, o sistema não funcionou mal, pelo contrário. Os lucros da finança e da banca – as remunerações dos respectivos accionistas e gestores bem o demonstram – cresceram exponencialmente até ao máximo que conseguiram com este método. Agora, preparam-se para mudar de método e recorrer ao Estado, isto é, aos impostos que foram cobrados aos chamados cidadãos, supostamente para serem utilizados em seu benefício, não para, por exemplo, construir hospitais ou atenuarem o empobrecimento progressivo da população, mas para comprar os tais “activos” que nada valem e reporem a banca e a finança a funcionar em pleno para nova fase de acumulação de capital.
Observando bem, a origem da “concessão” de crédito de alto risco está no facto, absurdo para os capitalistas, de, por exemplo nos EUA, ainda existirem, há coisa de uns dez anos, milhares e milhares de americanos ainda não completamente apanhados pelo sistema financeiro, e a quem, tudo somado, ainda podiam espremer uns quantos milhões de dólares. Se não pudessem pagar os empréstimos a tempo e horas tudo bem, iriam acto contínuo para a rua através da execução das hipotecas, como já sucedeu a milhares de famílias americanas. E, agora que o preço de venda das casas hipotecadas, com tanta casa à venda, caiu de tal modo que nem em leilões as conseguem vender por preço que assegure a continuação do negócio, que fazer? Simples, serão todos os contribuintes, incluindo esses mesmos que essas empresas imobiliárias puseram na rua que vão pagar, através do chamado erário público para o qual contribuíram praticamente desde que nasceram... para “recuperar” a situação de “descalabro” financeiro a que chegaram.
São caso exemplar os dois “gigantes” americanos do crédito hipotecário, a Freddie Mac e a Fannie Mae: do bolo astronómico de 700 mil milhões de dólares que a administração americana vai oferecer a várias grandes empresas e bancos americanos, quase um terço, 200 mil milhões, destinam-se a “salvar” essas duas.
Note-se que, na mesma semana em que o Estado americano anunciava esse “pacote” de “ajuda à economia” e de “correcção ao mau funcionamento do mercado”, Jacques Diouf, director da ONU-FAO, denunciava um aumento de 75 milhões de pessoas a passar fome no mundo, em 2007, comparando com 2006 (o que eleva para 925 milhões a estimativa do número total de pessoas que passam fome hoje em dia), e que, segundo os próprios cálculos daquela organização, “será preciso investir 30 mil milhões de dólares por ano para duplicar a produção alimentar e eliminar a fome no mundo”, ou seja, uma pequena parte do que a versão actual da “ajuda” estatal vai entregar à Freddie Mac e à Fannie Mae. Claro que o que Jacques Diouf certamente sabe, mas não diz, é que o objectivo real dos capitalistas nunca foi, nem será, matar a fome à pobreza.
Esta soma colossal de 700 mil milhões de dólares será certamente tirada de alguma cartola de mágico, pois que, segundo sempre dizem, nunca há dinheiro para, por exemplo, impedir uma simples falência de uma empresa, que vai atirar mais uns tantos trabalhadores para o desemprego, mesmo nos casos em que é o próprio Estado um dos seus grandes credores directos. Claro que, neste caso, a “mão invisível do mercado” estará a funcionar em pleno e sem precisar da ajuda correctora do Estado...
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Para nós, o capitalismo é sempre essencialmente igual a si próprio, mais “liberal” ou mais “intervencionado”, mais “livre” ou mais “regulado”, mais “privado” ou mais “estatal”: em termos voluntariamente simplistas, é uma máquina muito bem oleada de fazer fortuna e granjear poder para alguns à custa da exploração e do empobrecimento de muitos.
Não, os parasitas não “foram longe demais”. Eles preferirão sempre arrastar-nos a todos para o abismo a abdicar do que quer que seja, a não ser para ainda melhor perpetuar a sua própria existência, servindo-se do aparelho de Estado para tentar garantir por todas as formas, incluindo pelas armas se necessário, a sua sobrevivência. Não resta de facto alternativa ao capitalismo a não ser a sua destruição.
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António Mota
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Ao contrário do que se poderia esperar, os gestores ligados aos bancos e às empresas que supostamente entraram em “colapso” devido à chamada crise do crédito de alto risco, dos quais aqui apresentamos alguns, foram recompensados pelos lucros fabulosos que proporcionaram aos respectivos accionistas. No caso de John Thain, contemplado com um bónus de 10,6 milhões de euros pelo seu “desempenho” durante o ano de 2007, trata-se do presidente executivo da Merril Lynch, que apenas entrou naquela corretora em Dezembro. Nada mau, como recompensa de um mês de “trabalho”...
Nos EUA, tanto os ordenados como os bónus dos gestores financeiros estão directamente ligados aos lucros obtidos pelas empresas – não dá sequer para imaginar quais terão sido os lucros da Merril Lynch em todo este período de “crise”.
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domingo, 12 de outubro de 2008

Empresa FIDAR – um exemplo de resistência: Há dois meses em contestação em frente às instalações da fábrica

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A empresa FIDAR integra um conjunto de empresas que gradualmente foram fechando, sem que os trabalhadores recebessem as indemnizações respectivas por parte do patronato. No que é igual a tantos casos de manipulação e desrespeito por quem se vê subjugado pelas duras leis do trabalho capitalista, a luta destes trabalhadores em concreto, constitui um caso de resistência raro porque continuado no tempo e de forma, diremos, apartidária.
A FIDAR é uma pequena – média empresa de têxteis sediada na região de Gondar, Guimarães, que fechou as portas no fim do mês de Julho por alegada baixa de produtividade.
No seguimento de uma situação aparentemente de crise, o patrão tenta estabelecer acordos com os trabalhadores, no número de 150, para que estes oficialmente declarem o abandono voluntário do seu posto de trabalho, sendo que, o valor a receber ao assinar tal acordo se mostrava francamente inferior ao que, na realidade, deveriam receber.



Os trabalhadores já em protesto afirmam que a forma como este acordo estava redigido encobria os reais motivos do despedimento: por um lado, uma vez que afirmava que os trabalhadores abandonavam os seus postos de trabalho de forma voluntária e não por motivos de carácter financeiro, por outro lado, o montante a receber estava propositadamente em destaque na mancha de texto e seria, como foi, pago em dinheiro vivo no momento da sua assinatura.
54 trabalhadores aceitam o acordo, 93 declinam a proposta, uma vez que o patrão não dá quaisquer garantias do pagamento posterior das indemnizações que efectivamente lhes são devidas. Soma esta que excede em muito a quantia que aquele acordo estabelecia.



Assim sendo, os trabalhadores discordantes manifestam-se desde o dia 1 de Agosto do corrente ano em frente à fábrica, onde permanecem dia e noite até que toda a situação seja justamente regularizada. Note-se que muitos destes têm mais de 30 anos de trabalho nesta empresa e sabem ser extremamente difícil encontrar outras formas de rendimento devido à sua idade, desconsiderada, também ela, nas ofertas de trabalho existentes. Existem, da mesma forma, casais desempregados e com filhos que, trabalhando na mesma empresa, se vêem absolutamente sem rendimentos. É certo que estão a ser auxiliados pelo fundo de desemprego, o que impede que a contestação surja sob outras formas, contudo, não será garantia de uma pacificação por muito mais tempo, afirmam os próprios. É uma espécie de mundo ao contrário, diz um dos trabalhadores, uma vez que, devido à contestação levada a cabo, até já se sentiram enganados também pela GNR.
As forças policiais deram já encobrimento ao patrão ao deixarem que este abandonasse as instalações da fábrica sem que fosse devidamente revistado, numa situação que lembra um autêntico filme, afirma outro dos contestatários. Neste sentido, passaram as autoridades por cima de uma ordem judicial que obriga à inspecção de todos os veículos que entrem ou saiam da fábrica, para que se salvaguardem os bens que se encontram dentro da mesma, única garantia do pagamento das indemnizações aos trabalhadores.
Na situação acima referida, existiu uma clara conivência entre o sargento da GNR e dos seus súbditos, com o patrão da FIDAR. Para além dos senhores polícias terem agido de forma brusca com os trabalhadores que protestavam ao chegarem à fábrica, aceitam que o carro do patrão não seja revistado aos olhos de tod@s, mas nas instalações da GNR.
Como testemunhas, dois trabalhadores que seguiam noutro carro da GNR afirmam que deixaram de ver o carro do patrão que seguia na mesma estrada, pois o polícia condutor abranda propositadamente. Assim, ficou sem se saber o que aconteceu no espaço em que os carros se afastam. Obviamente que os trabalhadores se sentiram gozados ou mesmo raptados pelos agentes (como referem), pois teria deixado de fazer sentido testemunharem seja o que fosse porque muita coisa poderia já ter acontecido naquele espaço de tempo, em que se viram sozinhos na estrada com os senhores polícias.
Os trabalhadores descobriram ainda ligações ambíguas entre o advogado e uma empresa que surge posteriormente ao encerramento da FIDAR e à qual se tentam vender os bens da FIDAR, etc. São estas as situações insólitas ocorridas durante a contestação que ainda dura dia e noite em frente às instalações da FIDAR.

Trabalho do Colectivo Anarquista Hipátia – Porto

A.S. – Entrevistas
U.Z. – Fotos
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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Solidariedade com @s trabalhador@s imigrantes e activistas sociais!

Porto: um processo do S.E.F. a activistas sociais por “difamação”…


Manifestação de luto imigrante - Porto, Junho de 2006

Fez no passado mês de Junho dois anos que as associações TERRA VIVA! AES, ESSALAM (associação de magrebinos), AACILUS (afro-brasileira) e MUSAS decidiram convocar uma Conferência de Imprensa e, mais tarde, uma “Manifestação de Luto Imigrante” no Porto (na qual participaram outras associações e colectivos sociais) contra o tratamento discriminatório no SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) do Porto que, conforme denunciado pela comunidade paquistanesa local (entre outras), estaria na origem do suicídio do operário de construção civil, precário, imigrante paquistanês, Hamid Hussain.

Este processo vai agora a julgamento em Dezembro de 2008 nas pessoas de quatro activistas associativos representantes das quatro associações (respectivamente Paiva, Rachid, Flávio e Abílio M.).

Com efeito, Hamid Hussain, casado e pai de 2 filhos e a residir legalmente havia 5 anos em Portugal, trabalhador precário como milhares de outros, portugueses e imigrantes, tinha sido confrontado no SEF do Porto com a exigência de provar, para poder renovar a sua autorização de residência, ter um rendimento anual de mais de 5400 €… Alegando justamente que muitos trabalhadores portugueses não aufeririam anualmente essa quantia, Hussain exigira então que o Estado português lhe devolvesse os seus descontos para a Segurança Social de forma a poder regressar ao seu país. Ridicularizado, enxovalhado e mal tratado – o que não era nem será, ainda hoje, caso único no SEF do Porto! -, ameaçado de expulsão, conforme contara a amigos seus, Hussain entrou em depressão e acabaria por se suicidar saltando da ponte D. Luís.

Apesar de ter nas suas roupas a sua documentação pessoal (passaporte e número de contribuinte), os seus amigos e familiares só uma semana depois saberiam do sucedido por terem procurado o seu corpo na Instituto de Medicina Legal do Porto, onde já se preparava a sua incineração sem qualquer informação ao consulado ou aos seus familiares e amigos.

A TERRA VIVA! AES, na altura em parceria activa com várias associações dos meios imigrantes do Porto, através do seu projecto “Fazer Caminhos” do âmbito do Programa ESCOLHAS (patrocinado pelo então ACIME – agora ACIDI), seria por causa desta denúncia pública chamada primeiro “à capa” pela delegação do ACIME do Porto – justificando então a sua acção pelo facto de ter responsabilidades sociais na defesa dos trabalhadores imigrantes e no desenvolvimento da inserção do seu projecto nesses meios – até porque tinha em preparação um outro projecto para o triénio 2006-2009 em parceria com seis associações imigrantes da área do Grande Porto (projecto esse que entretanto acabou por não ser apoiado pelo “Escolhas/ACIME”…). A seguir, em Dezembro de 2006, os quatro activistas da Terra Viva!, ESSALAM, AACILUS e Musas, receberiam a acusação de “difamação agravada” do “bom nome” do SEF em processo movido por aquela autoridade policial.


Manifestação de luto imigrante - Porto, Junho de 2006

Entretanto também, poucos meses após estes factos, o responsável local do SEF, Eduardo Margarido – cuja demissão fora exigida tanto na manifestação como em abaixo-assinado a circular na altura –, acabaria por ser afastado da chefia da delegação daquela polícia no seguimento de diversas queixas de imigrantes e associações.

Como muitos dos motivos que levaram estes e outros activistas a agir continuam a existir, apela-se a todos @s activistas sociais e libertári@s, associações imigrantes e de solidariedade imigrante que se solidarizem e façam ouvir a sua voz!

VIVA A SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL DE TRABALHADORAS/ES E “EXCLUÍD@S”!
NÃO AO RACISMO, NÃO À EXPLORAÇÃO, NÃO À EUROPA FORTALEZA!
LEMBREMOS HAMED HUSSAIN!


Porto, 29 /06/2008

(em breve, em data e local a marcar, será organizada uma reunião de solidariedade e informação)

Artigo publicado no Boletim Anarco-Sindicalista nº 27 (Junho - Julho 2008)

Comunicado para distribuição (em PDF): http://www.freewebs.com/ait-sp/comunicados/PanfletosolidariedadecasoSEFPorto.pdf
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sexta-feira, 3 de outubro de 2008